O POEMETO DAS SOMBRAS
Ruge lá fora a ventania
e as árvores vergando, desfolhadas,
vão gemendo, como almas na agonia,
contorcidas, desvairadas.
À meia-noite,
a voz do sino, pesada e densa,
passa estridulando,
como se uma boca cavernosa, imensa,
nos predissesse negramente, malsinando!...
Há lares em festa -
e fome pelos caminhos
da desgraça.
E a minha amargura
vai subindo
na voragem funesta
de clamor que passa!
Meu Deus!
Por que é que os inocentes, pobrezinhos,
não têm pão?
Por que é que nesta noite em que nasceu Jesus
o Céu, não se sorri, cheio de luz?
Quebram-se soluços na rajada...
Exalo-me em tédio! vibra o meu tormento -
eu trago revestida a alma de saudades
nem eu já sei há quanto tempo!...
Sobre a seda vermelha que me envolve.
a luz vai entornando
vagas tonalidades - violetas...
e lá fora batalham peito a peito,
revolvendo as trevas ululando,
longos fantasmas
de negras silhuetas!
Judith Teixeira
1 comment:
amei ler
jocas maradas
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