Wednesday, September 20, 2006

o donjuanismo feminino: Régio, Judith e Florbela



José Régio, em paralelo não totalmente desabonatório para Judith Teixeira, defende, no célebre manifesto presencista “Literatura Viva” (10 de Março de 1927), que “todos os livros de Judith Teixeira não valem uma canção escolhida de António Bôtto”. Alguma crítica tem visto no asserto (e, quem sabe, se a Poetisa na época!) uma tirada fatal. Admito a possibilidade. Lembro, no entanto, que o negativismo que Régio entrevia não mais era do que emblemático: e foram emblemas menos positivos, de acordo com Régio, Sá de Miranda, António Ferreira, Fidelino de Figueiredo, Junqueiro e Judith. Não estudando ou mais citando Judith Teixeira, Régio é o principal responsável pelo impossível esquecimento da autora de Decadência. Régio, uma vez mais, estava lá, não dizendo talvez a espantosa modernidade de Judith Teixeira, o que não deixa de ser espantoso, tratando-se de Régio.
Florbela Espanca (1894-1930), também vítima do descaso epocal, que não de Judith Teixeira, que a publicou e, como quer Cláudia Pazos Alonso, a influenciou, consegue um impulso importante de José Régio no sentido da visibilidade do seu inovador e predestinado universo poético, assente, no dizer regiano, no "sempre querer mais." De facto, o criador de Poemas de Deus e do Diabo, não obstante a chegada pós-seniana, ao observar que a obra de Florbela deveria ser analisada sob o filtro do donjuanismo feminino que lhe genitaliza toda a obra, criou mais um lugar clássico na nossa literatura.
Em 1923, é publicado o Livro de Soror Saudade, uma colecção de sonetos que, assim, cruza meteoricamente essa década efervescente, à espera então da consagração que o tempo acabou por decidir. Régio, à frente no tempo, estava lá, anunciando. De outro modo esteve com Judith Teixeira… E, no entanto, a regiana palavra promoveu Judith, trazendo-a à memória, à frente no tempo…

No comments: