Com direcção-edição de Judith Teixeira e com José Adolfo Coelho como secretário de redacção, a revista Europa - Magazine Mensal , nº 1, propriedade da editora do "Magazine Europa", com composição e impressão na tipografia de "O Sport de Lisboa", no Largo do Calhariz, 29, em Lisboa, veio à tona viva do mundo em Abril de 1925.
Este primeiro número, com abundante apoio publicitário e com as páginas inumeradas, aparece dividido nas rubricas "Novelas e Contos", "Reportagens", "Artigos, Versos, Actualidades, etc.", "Teatro" e "Films", possui capa de Jorge Barradas, que é também ilustrador, a par de Bernardo Marques e Rocha Vieira, estando os clichés a cargo de Mário Novais. Aí se destacam, no atinente à primeira rubrica, e depois de ultrapassada a inicial vista panorâmica de Lisboa, os textos narrativos de Julião Quintinha ("A loucura de Lady Mac Russell", ilustrado por Bernardo Marques), Reinaldo Ferreira ("Mataram o Duque!", com ilustrações de Jorge Barradas), de José Adolfo Coelho ("As duas marquêsas", com trabalho ilustrativo de Jorge Barradas), de Phantasias ("A Guerra do Futuro", com ilustrações de Rocha Vieira) e de Carolina Homem Cristo ("Mais um Padre-Nosso pelas Alminhas do Purgatório", ilustrado por Bernardo Marques). Seguem-se, na ordem sumarial, dois textos sob a designação "Reportagens", o primeiro intitulado "A 5ª arma", com nove fotografias, e o segundo sob a designação de "Um cinema moderno". No passo seguinte, "Artigos, Versos, Actualidades, etc.", surgem textos de António de Cértima ("Elogio do Chiado", com ilustrações de Jorge Barradas), de Reinaldo Ferreira ("Como se toma um chá em Lisboa", também ilustrado por Jorge Barradas), de Victor Falcão ("Bugigangas", com trabalho ilustrativo de Bernardo Marques), de Félix Bermudes ("A situação desportiva"), de Motta Cabral ("Toiros e Toiradas", com clichés de José Wan-Zeller Palha) e de D. Maria Isabel Gamito, que por lá publica o soneto "A Ideia". Ainda neste mesmo espaço, são dados à estampa textos não assinados ("A génese dos mundos", com clichés fornecidos pelo Dr. Ismael dos Santos Andrea, astrónomo da Faculdade de Ciências de Lisboa; "O fundo do mar" e "O misterio dos bastidores", este com ilustração de Cunha Barros), não sendo de descartar a mais que provável autoria judithiana de algum deles, bem como é feita a reprodução de quadros presentes n' "O Salão de Outono" da autoria de Almada Negreiros, António Soares ("Retrato do Dr. Motta Cabral"), Eduardo Viana ("Paisagem"), Jorge Barradas e Mário Eloy ("Retrato do Arq. José Pacheco"). Na rubrica "Teatro", surgem-nos o "Projéto de um teatro moderno" de José Pacheco, o texto não subscrito "O Teatro Novo" e uma "Antologia Teatral", contendo o tríptico dramático original "Humanidade" de José Adolfo Coelho. Nos "Films" descobrimos reproduções de um busto da autoria de Diogo de Macedo, uma panorâmica fotográfica lisboeta de Serra Ribeiro ("Lisboa a vôo de pássaro") e "O monumento ao Marquês de Pombal". Por último, na página que inicia a "Cronica Literaria" reproduzem-se fotografias de Raul Lino, com a legenda "Raul Lino o arquiteto do Tivoli", e de M. Rachilde e Homem Christo, que recentemente haviam publicado uma obra conjunta editada em Paris por Ernest Flammarion, com o texto explicativo sob o cliché "A escritora Francesa M. Rachilde e Homem Christo, autores de Au seuil de l' Enfer ", sendo ainda alvo de breve recensão literária, nessa e na página seguinte, as obras Ao Sol de Mota Cabral, Pierrot e Arlequim de José de Almada Negreiros, Epopeia Maldita de António de Cértima, Cavalgada do Sonho de Julião Quintinha, A Invasão dos Judeus de Mário Saa e um In Memoriam de Camilo Castelo Branco da Casa Ventura Abrantes, trabalho certamente da responsabilidade de Judith Teixeira.
A revista nº 2, de Maio do mesmo ano, tem capa de Bernardo Marques e ilustrações de Eduardo Malta, Adolfo Haussmann e Martins Barata, seguindo uma tectónica idêntica à do primeiro número. Assim, e relativamente à rubrica "Novelas e Contos", encontramos "O mistério do Paço de Salvaterra" de António Alves (ilustrado por Eduardo Malta), "Prisioneira da Vida" de José Adolfo Coelho (também ilustrado por Eduardo Malta)) e "O caso do doutor Krauss" de Henrique Roldão. Na sequência, aparecem as "Reportagens" "Os inimigos da Humanidade" e "Film do Caes", ambas com clichés de Mário Novais. Na rubrica subsequente, "Artigos, Versos, Actualidades, etc.", deparamos com os textos informativos e de divulgação "Lisboa" de António Alves (com ilustrações de Bernardo Marques), "Como morreu Edgard Poe" de Augusto d' Esaguy, "O despido no Cinema" por Écran, "A verdade acêrca de Raffles" de Reinaldo Ferreira, "A Condessa Mathieu de Noailles" de Reinaldo Ferreira, "A Exposição Internacional das Artes Decorativas e Industriais Modernas" de Peregrino e "Elegancias" por Maria, com os poemas "A morte d' Arlequim" de Boris H. Knircha e "Arraial Ribatejano - Prologo" de Motta Cabral, bem como com as contribuições não assinadas e, em parte, de possível autoria judithiana "Judas Iscariotes" (ilustrado por Adolfo Haussmann), "Foi alguma vez conhecido o segrêdo de fazer ouro?", "A pintura na Belgica", "Mah-Jong", "Jackie Coogan, o garoto inimitavel", "Toiros e Toiradas", "Os Enigmas do So-brenatural", "Valores Nacionais - A cortiça" com ilustração de Martins Barata e com uma reprodução de um quadro de Milly Possoz do "Salão d' Outono". Na rubrica "Teatro d'Hoje", em texto não assinado e de quase evidente estilismo judithiano, fala-se sobre "Bernard Shaw - Georg Kayser - Luigi Pirandello". São ainda fornecidas in-formações de "Sport", "Teatro" (aqui com uma interessante foto de Mme. Herleroy) ou "Films", registando-se ainda, na "Cronica Literaria", as recensões às obras Historia das Matematicas na Antiguidade de Fernando de Almeida e Vasconcelos, Saudade de Beatriz Arnut, A Patria Portugueza e Brazileira de Nuno Catharino Cardoso, Quadras de Virgínia Madeira, A Paisagem , a Mulher e o Amor nos versos de João Lucio, Candido Guerreiro e Bernardo de Passos de José Dias Sanches, Influencia da Mulher na Vida Agricola de Joaquim M. Santos Garcia e Auto da Vida Eterna de Augusto Santa Rita. Completa o con-junto a reprodução de uma escultura de Francisco Coelho representando uma cabeça. Não deixa ainda de ser interessante a nota de pesar alusiva à morte de João Chagas impressa na p. 46 da revista Europa , que manifesta uma indenegável pungência e um halo de admiração evidente. (continua)
JUDITH TEIXEIRA E O MÉRITO EDITORIAL DA REVISTA EUROPA (II)
O último número, de Junho do mesmo ano, com capa de Jorge Barradas e ilustrações de Cunha Barros, contém contribuições poemáticas ("Lisboa, tantos de tal" de José Bruges d'Oliveira, "Charneca em flôr" de Florbela Espanca e "Sonetos para a ausente" de Américo Durão), colaborações narrativas literárias ("Adeus! Adeus!" de Aquilino Ribeiro, parte integrante da obra Filhas de Babilónia ; a novela "A loucura do <>" de João de Sousa Fonseca; "Sevilla City. La Primavera Ingleza" subscrito por El Terrible Perez; "A mão do Macaco" de Pasker e Jacobs e a novela de Carolina Homem Christo "E o amor salvou das chamas..."), textos de actualidade como "Mulheres de Agora" por António de Cértima, "Venus...civilisa-se" por Écran, "Lisboa - Guiné. Rapidas impressões de uma viagem aérea" de Pinheiro Correia, "Um triunfo da casa" por Fairey e ainda colaborações multimodais, abordando temas diversificados que passam pela arquitectura ("Arquitectura Regional" de Carlos Ramos), pela cinematografia ("A cinematografia alemã" de Reinaldo Ferreira e um abundante número de fotografias cinematográficas, onde pontuam os nomes de Manfred Noa, Hans Kyser, Carmen Santos ou Marcel L' Herbier), pela criatividade social ( Ferreira de Castro e a sua "Alegoria dos pequenos profissionais"), pela física ("As revelações da luz. A analise espectral.", de Fernando de Almeida e Vasconcelos) ou pela reportagem policial ("Como se faz uma peça policial", p. 48, texto assinado por X). Ressumam também textos não assinados, logo, sob suspeita judithiana, como "O segredo das piramides" , "Féras e Domadores", "Plantas carnivoras", "O Riso no Cinema", "Ultimas Invenções - Um navio sem velas nem helice", "Pedras Fataes", "Morreu Camilo Flammarion" ou a recorrente "Cronica Literaria", onde são alvo de recensão aos livros Politica Portuguesa de Bento Carqueja, Morte em San. Miguel-de-Seide de Veloso Araújo, Legenda Dolorosa do Soldado Desconhecido de Africa de António de Cértima, Jardim do Ocidente de Alípio Roma e Asas Exiladas de Aleixo Ribeiro.
E assim, com capas de Jorge Barradas e Bernardo Marques, com contributo ilustrativo deste último e de Cunha Barros, Adolfo Haussmann, Eduardo Malta e Jorge Barradas, com presença fotográfica de José Wan-Zeller Palha, Mário Novais, Rocha Vieira e Serra Ribeiro, com reproduções de obras plásticas de Almada Negreiros, Amadeo de Souza-Cardoso, João Carlos Celestino Gomes, Diogo Macedo, Eduardo Viana, Francisco Franco, Jorge Barradas, José Pacheco, Marcel Gaillard, Mário Eloy e Milly Possoz, bem como com a contribuição literária de António de Cértima, Aquilino Ribeiro, Augusto d'Esaguy, Florbela Espanca, Ferreira de Castro, Julião Quintinha, Reinaldo Ferreira e Victor Falcão, esta Europa veicula, através do labor de artistas dominantes no seu tempo e com perenidade assegurada no transcurso histórico-cultural, a verdade irrefutável da peculiaridade activa da sua directora. "Com as suas crónicas e contos de bons autores do género e excelentes capas de Barradas", a revista ideada por Judith Teixeira, ecléctica, com "secções diversas de cinema, desporto, teatro, moda, ficção científica e alguma colaboração literária", é, ao lado da erudita Lusitânia (Revista de Estudos Portugueses) dirigida por Carolina Michaelis de Vasconcelos, um caso ímpar de afirmação feminina na década de vinte. De facto, as direcções femininas das revistas Europa, de que saíram três números em 1925, e Lusitânia, de que se publicaram quatro volumes divididos em dez números entre 1924 e 1927, são casos praticamente únicos de assunção das capacidades feminis para trabalhos intelectuais que constituíam, até então, território de grande dominância masculina, lembrando, nesse arrojo, a actividade desenvolvida, no primeiro lustro do século XX, por Ana de Castro Osório e Olga de Morais Sarmento da Silveira à frente dos destinos da revista Sociedade Futura .
Não obstante o grau zero de literariedade que Clara Rocha descortina nela, inserindo-a nos títulos geográficos , "que situam a revista no espaço", bem como a feição tradicionalista que a mesma estudiosa por lá encontra, Europa é uma publicação do seu tempo, como o parece indiciar aquela inaugural fotografia panorâmica de Lisboa, que, nesse modo de inserção cosmopolita e na atenção dispensada aos novos fluxos industriais, culturais e científicos, parece abraçar as palavras de Almada Negreiros no "Ultimatum futurista às gerações portuguesas do século XX" (1917) no sentido de "criar e desenvolver a actividade cosmopolita das nossas cidades" e "ter a consciência exacta da Actualidade".
Ora, nessa vontade e nesse fulgor com fim anunciado - quantas revistas de feição cultural não ficaram pelo caminho? - habita um nome dirigente, Judith Teixeira, que não pode ser apagado, desvalorizado ou esquecido. Afinal, a revista dirigida pela autora de Decadência é uma das boas realizações artísticas da década de vinte. E, assim sendo, não vejo como manter a espessa bruma que tão caprichosamente tem recoberto o espírito singular de Judith Teixeira, nem, é certo, vislumbro como dissipar as dúvidas autorais relativamente a parte de textos não assinados e que manifestam, a meu ver, uma constância estilemática judithiana. Venha agora o silêncio respeitoso e a inscrição definitiva do projecto editorial Europa em lugar de mérito...
Este primeiro número, com abundante apoio publicitário e com as páginas inumeradas, aparece dividido nas rubricas "Novelas e Contos", "Reportagens", "Artigos, Versos, Actualidades, etc.", "Teatro" e "Films", possui capa de Jorge Barradas, que é também ilustrador, a par de Bernardo Marques e Rocha Vieira, estando os clichés a cargo de Mário Novais. Aí se destacam, no atinente à primeira rubrica, e depois de ultrapassada a inicial vista panorâmica de Lisboa, os textos narrativos de Julião Quintinha ("A loucura de Lady Mac Russell", ilustrado por Bernardo Marques), Reinaldo Ferreira ("Mataram o Duque!", com ilustrações de Jorge Barradas), de José Adolfo Coelho ("As duas marquêsas", com trabalho ilustrativo de Jorge Barradas), de Phantasias ("A Guerra do Futuro", com ilustrações de Rocha Vieira) e de Carolina Homem Cristo ("Mais um Padre-Nosso pelas Alminhas do Purgatório", ilustrado por Bernardo Marques). Seguem-se, na ordem sumarial, dois textos sob a designação "Reportagens", o primeiro intitulado "A 5ª arma", com nove fotografias, e o segundo sob a designação de "Um cinema moderno". No passo seguinte, "Artigos, Versos, Actualidades, etc.", surgem textos de António de Cértima ("Elogio do Chiado", com ilustrações de Jorge Barradas), de Reinaldo Ferreira ("Como se toma um chá em Lisboa", também ilustrado por Jorge Barradas), de Victor Falcão ("Bugigangas", com trabalho ilustrativo de Bernardo Marques), de Félix Bermudes ("A situação desportiva"), de Motta Cabral ("Toiros e Toiradas", com clichés de José Wan-Zeller Palha) e de D. Maria Isabel Gamito, que por lá publica o soneto "A Ideia". Ainda neste mesmo espaço, são dados à estampa textos não assinados ("A génese dos mundos", com clichés fornecidos pelo Dr. Ismael dos Santos Andrea, astrónomo da Faculdade de Ciências de Lisboa; "O fundo do mar" e "O misterio dos bastidores", este com ilustração de Cunha Barros), não sendo de descartar a mais que provável autoria judithiana de algum deles, bem como é feita a reprodução de quadros presentes n' "O Salão de Outono" da autoria de Almada Negreiros, António Soares ("Retrato do Dr. Motta Cabral"), Eduardo Viana ("Paisagem"), Jorge Barradas e Mário Eloy ("Retrato do Arq. José Pacheco"). Na rubrica "Teatro", surgem-nos o "Projéto de um teatro moderno" de José Pacheco, o texto não subscrito "O Teatro Novo" e uma "Antologia Teatral", contendo o tríptico dramático original "Humanidade" de José Adolfo Coelho. Nos "Films" descobrimos reproduções de um busto da autoria de Diogo de Macedo, uma panorâmica fotográfica lisboeta de Serra Ribeiro ("Lisboa a vôo de pássaro") e "O monumento ao Marquês de Pombal". Por último, na página que inicia a "Cronica Literaria" reproduzem-se fotografias de Raul Lino, com a legenda "Raul Lino o arquiteto do Tivoli", e de M. Rachilde e Homem Christo, que recentemente haviam publicado uma obra conjunta editada em Paris por Ernest Flammarion, com o texto explicativo sob o cliché "A escritora Francesa M. Rachilde e Homem Christo, autores de Au seuil de l' Enfer ", sendo ainda alvo de breve recensão literária, nessa e na página seguinte, as obras Ao Sol de Mota Cabral, Pierrot e Arlequim de José de Almada Negreiros, Epopeia Maldita de António de Cértima, Cavalgada do Sonho de Julião Quintinha, A Invasão dos Judeus de Mário Saa e um In Memoriam de Camilo Castelo Branco da Casa Ventura Abrantes, trabalho certamente da responsabilidade de Judith Teixeira.
A revista nº 2, de Maio do mesmo ano, tem capa de Bernardo Marques e ilustrações de Eduardo Malta, Adolfo Haussmann e Martins Barata, seguindo uma tectónica idêntica à do primeiro número. Assim, e relativamente à rubrica "Novelas e Contos", encontramos "O mistério do Paço de Salvaterra" de António Alves (ilustrado por Eduardo Malta), "Prisioneira da Vida" de José Adolfo Coelho (também ilustrado por Eduardo Malta)) e "O caso do doutor Krauss" de Henrique Roldão. Na sequência, aparecem as "Reportagens" "Os inimigos da Humanidade" e "Film do Caes", ambas com clichés de Mário Novais. Na rubrica subsequente, "Artigos, Versos, Actualidades, etc.", deparamos com os textos informativos e de divulgação "Lisboa" de António Alves (com ilustrações de Bernardo Marques), "Como morreu Edgard Poe" de Augusto d' Esaguy, "O despido no Cinema" por Écran, "A verdade acêrca de Raffles" de Reinaldo Ferreira, "A Condessa Mathieu de Noailles" de Reinaldo Ferreira, "A Exposição Internacional das Artes Decorativas e Industriais Modernas" de Peregrino e "Elegancias" por Maria, com os poemas "A morte d' Arlequim" de Boris H. Knircha e "Arraial Ribatejano - Prologo" de Motta Cabral, bem como com as contribuições não assinadas e, em parte, de possível autoria judithiana "Judas Iscariotes" (ilustrado por Adolfo Haussmann), "Foi alguma vez conhecido o segrêdo de fazer ouro?", "A pintura na Belgica", "Mah-Jong", "Jackie Coogan, o garoto inimitavel", "Toiros e Toiradas", "Os Enigmas do So-brenatural", "Valores Nacionais - A cortiça" com ilustração de Martins Barata e com uma reprodução de um quadro de Milly Possoz do "Salão d' Outono". Na rubrica "Teatro d'Hoje", em texto não assinado e de quase evidente estilismo judithiano, fala-se sobre "Bernard Shaw - Georg Kayser - Luigi Pirandello". São ainda fornecidas in-formações de "Sport", "Teatro" (aqui com uma interessante foto de Mme. Herleroy) ou "Films", registando-se ainda, na "Cronica Literaria", as recensões às obras Historia das Matematicas na Antiguidade de Fernando de Almeida e Vasconcelos, Saudade de Beatriz Arnut, A Patria Portugueza e Brazileira de Nuno Catharino Cardoso, Quadras de Virgínia Madeira, A Paisagem , a Mulher e o Amor nos versos de João Lucio, Candido Guerreiro e Bernardo de Passos de José Dias Sanches, Influencia da Mulher na Vida Agricola de Joaquim M. Santos Garcia e Auto da Vida Eterna de Augusto Santa Rita. Completa o con-junto a reprodução de uma escultura de Francisco Coelho representando uma cabeça. Não deixa ainda de ser interessante a nota de pesar alusiva à morte de João Chagas impressa na p. 46 da revista Europa , que manifesta uma indenegável pungência e um halo de admiração evidente. (continua)
JUDITH TEIXEIRA E O MÉRITO EDITORIAL DA REVISTA EUROPA (II)
O último número, de Junho do mesmo ano, com capa de Jorge Barradas e ilustrações de Cunha Barros, contém contribuições poemáticas ("Lisboa, tantos de tal" de José Bruges d'Oliveira, "Charneca em flôr" de Florbela Espanca e "Sonetos para a ausente" de Américo Durão), colaborações narrativas literárias ("Adeus! Adeus!" de Aquilino Ribeiro, parte integrante da obra Filhas de Babilónia ; a novela "A loucura do <
E assim, com capas de Jorge Barradas e Bernardo Marques, com contributo ilustrativo deste último e de Cunha Barros, Adolfo Haussmann, Eduardo Malta e Jorge Barradas, com presença fotográfica de José Wan-Zeller Palha, Mário Novais, Rocha Vieira e Serra Ribeiro, com reproduções de obras plásticas de Almada Negreiros, Amadeo de Souza-Cardoso, João Carlos Celestino Gomes, Diogo Macedo, Eduardo Viana, Francisco Franco, Jorge Barradas, José Pacheco, Marcel Gaillard, Mário Eloy e Milly Possoz, bem como com a contribuição literária de António de Cértima, Aquilino Ribeiro, Augusto d'Esaguy, Florbela Espanca, Ferreira de Castro, Julião Quintinha, Reinaldo Ferreira e Victor Falcão, esta Europa veicula, através do labor de artistas dominantes no seu tempo e com perenidade assegurada no transcurso histórico-cultural, a verdade irrefutável da peculiaridade activa da sua directora. "Com as suas crónicas e contos de bons autores do género e excelentes capas de Barradas", a revista ideada por Judith Teixeira, ecléctica, com "secções diversas de cinema, desporto, teatro, moda, ficção científica e alguma colaboração literária", é, ao lado da erudita Lusitânia (Revista de Estudos Portugueses) dirigida por Carolina Michaelis de Vasconcelos, um caso ímpar de afirmação feminina na década de vinte. De facto, as direcções femininas das revistas Europa, de que saíram três números em 1925, e Lusitânia, de que se publicaram quatro volumes divididos em dez números entre 1924 e 1927, são casos praticamente únicos de assunção das capacidades feminis para trabalhos intelectuais que constituíam, até então, território de grande dominância masculina, lembrando, nesse arrojo, a actividade desenvolvida, no primeiro lustro do século XX, por Ana de Castro Osório e Olga de Morais Sarmento da Silveira à frente dos destinos da revista Sociedade Futura .
Não obstante o grau zero de literariedade que Clara Rocha descortina nela, inserindo-a nos títulos geográficos , "que situam a revista no espaço", bem como a feição tradicionalista que a mesma estudiosa por lá encontra, Europa é uma publicação do seu tempo, como o parece indiciar aquela inaugural fotografia panorâmica de Lisboa, que, nesse modo de inserção cosmopolita e na atenção dispensada aos novos fluxos industriais, culturais e científicos, parece abraçar as palavras de Almada Negreiros no "Ultimatum futurista às gerações portuguesas do século XX" (1917) no sentido de "criar e desenvolver a actividade cosmopolita das nossas cidades" e "ter a consciência exacta da Actualidade".
Ora, nessa vontade e nesse fulgor com fim anunciado - quantas revistas de feição cultural não ficaram pelo caminho? - habita um nome dirigente, Judith Teixeira, que não pode ser apagado, desvalorizado ou esquecido. Afinal, a revista dirigida pela autora de Decadência é uma das boas realizações artísticas da década de vinte. E, assim sendo, não vejo como manter a espessa bruma que tão caprichosamente tem recoberto o espírito singular de Judith Teixeira, nem, é certo, vislumbro como dissipar as dúvidas autorais relativamente a parte de textos não assinados e que manifestam, a meu ver, uma constância estilemática judithiana. Venha agora o silêncio respeitoso e a inscrição definitiva do projecto editorial Europa em lugar de mérito...
3 comments:
uma europa universal....
porque o espaço é largo e a memória breve...às vezes.
obrigada.
bom dia
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hajam asas
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abraço
Caro Martim de Gouveia e Sousa: muito elucidativa, esta apresentação/análise dos números da revista Europa. Será pedir muito (e desculpe o atrevimento) que faça o obséquio de me enviar um scan da recensão da Saudade de beatriz Arnut que está no número 2? É que estou a fazer um trabalho de pesquisa sobre esta poetisa... Obg e desculpe, mais uma vez, este atrevimento. Os meus melhores cumprimentos, manuel cardoso
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