Friday, June 10, 2016

Judith Teixeira e Nita Clímaco – uma aproximação em "pentateuco"



Judith Teixeira e Nita Clímaco – uma aproximação em pentateuco
Ferindo a codificação escatológica, parece haver uma certa transcendência nalguns destinos como se na estrutura triádica do profetismo houvesse oponentes mediadores e comunidades organizadas para fins apocalípticos. Verta-se na genealogia da cultura mais filologia, mais textualidade, e conclua-se da existência de filamentos nodais, lugares transmissivos e fluxos de influência. Um elemento criativo no campo do cânone literário pode hibernar, imergir ou emergir, estabelecendo, de acordo com a ritualidade da ação, um laço mais ou menos apertado com outros elementos de semelhante linhagem. Aliás, a literatura é isto – genealogia e linhagem.
E por aí vou escrevendo o pentagrama: Judith Teixeira (1880-1959) publicou cinco livros (Decadência e Castelo de sombras, em 1923; Nua. Poemas de Bizâncio e a conferência De mim, ambos em 1926; e Satânia, em 1927), todos na mesma década; Nita Clímaco, por seu lado, publicou, durante a década de sessenta do mesmo século, os romances Falsos preconceitos (1964), Pigalle (1965), O adolescente (1966), A salto (1967) e A francesa[1] (1968). A aproximação é, visivelmente, inevitável.
Em entrevista que, infelizmente, não deveio célebre, Nita Clímaco afirma ter escrito cinco livros, todos censurados, e que isso a levou à desistência, vencida pelas proibições e enxovalhos. Ensina o tempo feiticeiro que não há Ramiros Valadões que possam calar a raiz ao pensamento. Os golpes apocalípticos serão, para uns, genesíacos. Para Clímaco e para Judith, como se tem visto, que se vão “da lei da morte libertando”.

Viseu, 10 de junho de 2016
Martim de Gouveia e Sousa



[1] De acordo com a informação da página de rosto, o volume contém dois minirromances: A francesa e Encontros. E até este caso apresenta o correlato com Satânia, que apresenta, como se sabe, duas novelas. 

5 comments:

Ana Bárbara Pedrosa said...

Caro Martim,
Pode, por favor, dizer-me onde posso encontrar a entrevista mencionada? Tenho informação de que os primeiros três romances que menciona foram, de facto, censurados, mas nada encontro a respeito de "A salto" nem de "A francesa" (assim como não os encontrei nos registos das obras proibidas na Torre do Tombo, ainda que admita que possam ter-me escapado). Também Cândido de Azevedo, na obra "Mutiladas e proibidas: para a história da censura literária em Portugal", se refere apenas às proibições das obras "Pigalle", "Falsos preconceitos" e "O adolescente".
Agradeço a atenção.
Cumprimentos,
Ana Bárbara Pedrosa
anabarbarapedrosa@gmail.com

Ana Bárbara Pedrosa said...

Aliás, Isabelle Simões Marque, num artigo intitulado “Quando a literatura retrata a emigração portuguesa em França: o caso de Nita Clímaco”, que está na obra A vez e a voz da mulher – Relações e migrações, organizada por Rosa Maria Neves Simas, diz que “A autora começou a sua carreira como jornalista e publicou uma série de romances, todos em edição de autor, que foram censurados pelo regime ditatorial da época, exceto A salto publicado em 1967”. Em nota de rodapé, diz que as obras censuradas foram as três a que me referi previamente, acrescentando que a “A autora também publicou, em edição de autor, A salto (1967) e A francesa e encontros (1968)”, o que me leva a crer que, por esquecimento, não terá referido A francesa e encontros como outra obra que não foi censurada.

Vera said...

Boa tarde!
Tal como a Ana, também me interessava saber qual a fonte da entrevista de que fala.
Obrigada pela atenção, desde já.

Lúcia Vicente said...
This comment has been removed by the author.
Lúcia Vicente said...

Estou, também, bastante interessada nesta informação.
Pode, por favor, entrar em contacto comigo?
luciamvicente@gmail.com
Muito obrigada pelo tempo e atenção.
Lúcia Vicente