Wednesday, December 15, 2010

Judith Teixeira (e não só) na revista de literatura "forma breve" 7 (Homografias. Literatura e homoerotismo)



índice
HOMOGRAFIAS
Literatura e homoerotismo


CRITERIOS PARA UNA DEFINICIÓN DE LA LITERATURA HOMOERÓTICA LATINA                13
Carlos de Miguel Mora

O ESPELHO DEFORMANTE: IMAGENS DO GROTESCO EM FATAL DILEMA, DE ABEL BOTELHO    27
Anabela Barros Correia

LESBIANISMO E INTERDITOS EM JUDITH TEIXEIRA   47
Martim de Gouveia e Sousa

A INVENÇÃO DO EU: APONTAMENTOS SOBRE A VIDA VIRTUAL DE ANTÓNIO BOTTO      63
Anna M. Klobucka

SOMBRA E LUZ - HESITAÇÕES HOMOERÓTICAS EM SIGNO DE TOIRO, DE CELESTINO GOMES   81
Teresa Bagão

SEM TABUS: O (HOMO)EROTISMO EM DAVID MOURÃO-FERREIRA          105
Lola Geraldes Xavier

ESSE HUMANO QUE FOI COMO UM DEUS GREGO: ANTÍNOO ENTRE EROS E THANATOS NA POESIA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA           117
Tiago Aires

LOVE FLESCH/CARNE DE AMOR: METÁFORAS DO HOMOEROTISMO EM WALT WHITMAN E EM EUGÉNIO DE ANDRADE   131
João de Mancelos

MIGUEL ROVISCO: POEMAS DE PRAZER MASCULINO, UMA QUESTÃO DE GÊNERO E VIVÊNCIA FICCIONAL   145
Virgínia Maria Antunes de Jesus

CADERNOS DO NEFANDO: A EXPERIÊNCIA HOMOERÓTICA NA LITERATURA DA GUERRA COLONIAL     161
Paulo Alexandre Pereira

O CONFLITO INTERIOR EM ATÉ HOJE (MEMÓRIAS DE CÃO), DE ÁLAMO DE OLIVEIRA       203
Mónica Serpa Cabral

DUAS QUALIDADES DE MOVIMENTOS A PARTIR DO CORPO EM LUÍS MIGUEL NAVA - A LEITURA NO PRAZER E A ERÓTICA DO POEMA   221
Érica Zíngano

THE THIN RED LINE: O OUTRO TRAJECTO DA PELE EM RUI NUNES   239
Isabel Cristina Rodrigues

ESCORPIÃO DE SEDA: HOMOEROTISMO EM CONTOS BRASILEIROS    253
António Manuel Ferreira

DO AFLRAMENTO DA PALAVRA HOMOERÓTICA NA POESIA MODERNA: PORTUGAL, MÉXICO, BRASIL (CORRESPONDÊNCIA MANUEL BANDEIRA/MÁRIO DE ANDRADE EM FOCO)   281
Horácio Costa

SAINDO DO ARMÁRIO - LITERATURA PARA A INFÂNCIA E A REESCRITA DA HOMOSSEXUALIDADE   295
Ana Margarida Ramos

A MONSTRUOSA ANDROGINIA E A SINISTRA HOMOSSEXUALIDADE COMO APOTEOSE DA PERVERSÃO   315
Maria Eugénia Pereira

OUTROS ESTUDOS   339

RECENSÕES   419



Martim de Gouveia e Sousa
ESEN (Viseu)

Palavras-chave: Judith Teixeira, modernismo sáfico, literatura feminina
Keywords: Judith Teixeira, sapphic modernism, feminine literature

“É preciso ainda guardar silêncio; faltam-nos nomes santos.”
Hölderlin

“Ninguém queira ter a sorte de Botto e de Teixeira.”
António Fernando Cascais


Diz Hölderlin, numa das suas célebres elegias, que é preciso, à míngua de nomes santos, guardar silêncio, até porque, como o defende o elegíaco no poema “Patmos”, onde houver perigo, crescerá também o que salva. Parecem estas desavindas palavras bem apropriadas a esta conversa sobre Judith Teixeira, a mulher-poeta que, segundo a opinião de Fernando Pessoa em carta a Adriano del Valle, “não tem logar, abstracta e absolutamente fallando”, entre os maiores “do caso-transito dos episodicos” (Pessoa, 1996: 61). E, no entanto, este deslugar proposto por Pessoa é hoje um esteio vanguardista na literatura portuguesa, que leva, por exemplo, Maria Lúcia Dal Farra, na esteira de António Manuel Couto Viana, a defender que Judith Teixeira é o “único nome feminino a integrar a vanguarda portuguesa” . E isso só pode ser importante, como, em jeito de aviso, o diz António Fernando Cascais ao lembrar o “episódio fulcral António Botto / Judith Teixeira e a sua contemporaneidade de Pessoa e Sá-Carneiro” (Cascais, 2004: 64-65) para a história gay, lésbica e queer portuguesa, no meio, aliás, de uma literatura tida como riquíssima e inexplorada.

Judith Teixeira nasceu, em Viseu, no dia 25 de Janeiro de 1880. Fez publicar três livros de poesia (Decadência. Poemas, Castelo de Sombras e Nua. Poemas de Bizâncio), uma conferência (De mim. Conferência em que se explicam as minhas razões sobre a vida, sobre a estética, sobre a moral) e um livro de novelas (Satânia) durante a década de vinte, tendo deixado trabalhos dispersos em diferentes modos e géneros literários, pelo menos duas crónicas sobre temas educativos, uma tradução de um poema de Rafael Lasso de La Vega e uns perdidos textos dramáticos. Dirigiu ainda uma revista, de nome Europa, de que se conhecem três números saídos em 1925.

Com acção literária documentada entre 1918 e 1938 em várias publicações periódicas lisboetas e com alguns textos assinados sob o pseudónimo Lena de Valois, Judith Teixeira veio a morrer em Lisboa, silenciada e abandonada, no dia 17 de Maio de 1959. Contra o esquecimento, Gabriela Marques afirma ser a poetisa um “caso paradigmático” (Marques, 2007: 91) e já anteriormente a “impudica Fénix” (Maria Graciete Besse) fora julgada pelo avisado Luís Amaro como uma poetisa “audaz para o tempo” (Amaro, 2003: 29). Mas não devem estes elogios e particularidades conduzir a uma diferente presença no campo literário?

0. Adelaide Félix, escritora pouco mencionada e com obra mais do que residual, em conto de título “Lady Désir” integrado no livro Miragens Tôrvas (Prosa de Arte), convoca uma mulher de “mãos esguias”, “na sua boca vermelha e franca”, onde “ficou pousado o rictus dum beijo que a tomou um dia e a não quer deixar…” (Félix, 1921: 9). Palpitante e estranha, Lady Désir arrasta a culpa do amor heterossexual e a sua ousadia não vai além de um “seio, breve e branco” (Félix, 1921: 13). Duas décadas à frente, Teixeira de Pascoaes confidenciará a Albert Vigoleis Thelen - o Vigo Thelen de que fala Eugénio de Andrade -, ser António Nobre “a nossa maior poetisa” (Andrade, 1974: 20).

Muitas das vezes de forma hesitante, cautelosa mesmo, lá vão surgindo, para trás e para a frente, ligeiros mas claros enfoques homográficos e tendências homossexuais na literatura portuguesa e nos seus fautores. Por exemplo, estão “sob suspeita” homossexual Cesário Verde e Silva Pinto , assim como deste existem claras incidências homográficas no conto “Berloque Vermelho” e daquele o estranho designativo para uma irlandesa de “rural boy” (Verde, 1983: 73) do poema “Manhãs brumosas”, bem como um indicioso pavor às “carnações redondas” (Verde, 1983: 53) decorrente da composição “Frígida”. O mesmo Silva Pinto, autor, como vimos, de um deslembrado conto sobre uma paixão entre dois rapazes escrito na primeira pessoa no ano em que conhecera Cesário (1873), manterá uma relação tempestuosa com um jovem poeta “prodígio” de nome Narciso de Lacerda, com quem passará a viver. Referindo-se ao caso, em carta a Ana Plácido, Camilo Castelo Branco dirá: “O Sr. Pinto não veio jantar. Ou não me entendeu ou teve testilhas com o outro.”

Para a frente, outros casos avultam. Por exemplo, constituem desde há muito “desvios” do desejo entre iguais as claras incisões de António Botto e Raul Leal. Neste contexto epocal poroso e convulsivo, não deixam de ser interessantes as palavras de Raul Brandão, inscritas num dos volumes das suas Memórias, bem manifestativas de estratégico espanto e talvez de sentida recriminação a “descaminhos” literários impossíveis:

As culpadas são as classes chamadas superiores. Lisboa foi sempre uma terra depravada, mas nunca como agora. Actualmente é uma cloaca. Noutro dia, no Entrudo, houve um grande baile de pederastas numa escola da Graça. Publicam-se livros de versos dedicados a homens por homens, e entre os manifestos e folhetos espalhados figura a Sodoma Divinizada, etc. Também há mulheres oferecendo poesias como A minha amante (Brandão, 1933: 178).

E depois há aquele tio Ângelo do nemesiano Mau tempo no canal (1944), apodado de “maricas” pelo narrador (Nemésio, 1986: 16) e sofredor em virtude da sua opção homoerótica , bem como aquele enigmático e activo Taborda do Internato (1946) de João Gaspar Simões que mordiscava lentamente os lábios de Ramiro ou aquela ambiência voyeurista homossexual e figueirense do seniano Sinais de Fogo (1979) , de que se destacam as figuras do amaneirado mas ousado Rufininho , que não tinha medo de passar por ser aquilo mesmo que era (Sena, 2003: 412), e do gigolô e homossexual nem sempre assumido Rodrigues .

1. Lembro-me agora que a introdução já vai longa e fere mesmo a protocolar admonição de António Sérgio, inserta na 4ª das suas Cartas de Problemática, datada de Novembro de 1952, que transcrevo muito parcelarmente:

Sempre que um típico intelectual lusitano tem por mira instruir-nos sobre determinado assunto embrenha-nos na selva de uma introdução genérica, histórico-genético-filosófico-preparatória, cheia de cipoais onde se nos enreda o espírito, e onde nunca se avista a estrada recta e livre. Depois, quando nos achamos já cerca da orla da floresta, principiando-se a enxergar o bom caminho e o objectivo – pronto!, acaba-se o fôlego do nosso autor e a nós próprios exactamente no instante em que se ia abordar o tema. (Sérgio, 2001: 348)

Mais longe que perto (ou, talvez, nem tanto) das belíssimas figuras de Farida e Carolinda do fascinante romance Terra Sonâmbula, de Mia Couto, em que a primeira personagem possuía uma beleza “que tocava profundamente Carolinda e lhe fazia um gosto quase de ser homem, poder tocar aquele corpo” , a poesia e os escritos de Judith Teixeira falam de interdições e de insubmissões. Certeiras, as palavras judithianas são fogo dentro da pele contra o “impulso sexual neutro” de que fala Joaquim Manuel Magalhães, dando-se directas do sujeito feminino ao desfibramento de objectos que são feminis corpos homograficamente inscritos, passe a redundância, homossexualmente desejados. Desambígua e “radical” (Alonso, 2008: 245), Judith Teixeira sabe-se uma minoria construindo uma identidade ainda mal aceite, marginalizada até. Inteligente e activa, a poeta lutou o que pôde contra as “normas do pudor” (Hernando, 1999: 14), mostrando, escondendo e matizando os enunciados, certa que estava, como Alberto Hernando, de que a “lógica de toda a censura consiste em canonizar o lícito e ignorar ou silenciar o que não é permitido.”

2. Ao transgredir a moral e a inefável canonização sexual, a poesia de Judith Teixeira adquire uma tensão erótica desviante, o que, de per si, a coloca, ao tempo, em lugar solitário e original. A metaforização do homoerotismo judithiano é tão exigente e completo que não poucas vezes topamos a deflagração de um clímax orgásmico. Veja-se, por exemplo, o poema “Perfis decadentes”, onde a linguagem parece liquefazer-se e destruir-se como um turbilhão que não cessa de culminar-se ou, então, leia-se o convulsionadíssimo sonetilho “A minha colcha encarnada”, onde perpassam “espasmos delirantes, / numa posse insaciada”, que culminam com os indiciadores tercetos que transcrevo:

Tomo o cetim às mãos-cheias…
Sinto latejar as veias
na minha carne abrasada!
Torcem-me o corpo desejos…
mordendo o cetim com beijos
numa ânsia desgrenhada! (Teixeira, 1923: )

Para que serve, pois, um nome assim banido e lenta mas firmemente restaurado? O nome de Judith Teixeira, no seu caminho iluminante, parece designar, salvaguardadas as devidas distâncias, um “mal” bem próximo daquele que Gilles Deleuze reserva para Sade e Masoch. Saída do estigma originário e resistente a cânones, moralidades e estéticas, Judith Teixeira e a sua obra constituem hoje exemplo e subtil recurso de insubmissão feminina.

3. Mas vamos de novo ao caso prático do lesbianismo e dos interditos judithianos, uma singularidade que mais era do que parecia, porque verdadeiramente falada nos seus textos ardentes, a ponto de Marcello Caetano quebrar um segredo que toda a gente sabia e estigmatizar Judith Teixeira com o apodo de desavergonhada , o que, aliás, viria a ser subscrito por Álvaro Maia, escondido sob o pseudónimo de Ariel, ao dizer a poetisa “doida sim e porque sim!” .

Por exemplo, o poema “A Estátua”, da primeira colectânea Decadência, é um notável caso de ousadia expressional judithiana, cujo explicit (“Ó Vénus sensual! / Pecado mortal / do meu pensamento! / Tens nos seios de bicos acerados, / num tormento, / a singular razão dos meus cuidados!”) coloca logo Judith Teixeira, pelo homoerotismo evidente, dentro do espírito subversivo vanguardista, na periferia do modernismo canónico e bem dentro do modernismo sáfico accionado pela fragmentação, a elipse e a antítese, como muito bem o vincaram René Garay e Raúl Romero (Garay e Romero, 2001:161).

A estesia perante o corpo feminino que o sujeito poético manifesta lembra as mulheres esculturais de Klimt e o conexo deslumbramento pelo narcisismo lésbico. Esta interacção entre os dois artistas é iniludível, mas isso já eu disse aqui há anos, quando, a partir do poema “Perfis decadentes”, falei da integração nele de uma intensa cena de deflagração lésbica do amor que a poetisa poderia perfeitamente ter ido “beber” a “Serpentes de Água II”, criação que retrata, segundo Gilles Néret, “um mundo narcisista povoado de lésbicas que se enrolam em espirais nas correntes, feito de sonhos aquáticos”. Terei dito ainda que os vitrais judithianos serão a linfa klimtiana; as algas multicolores e coruscantes do pintor transformar-se-ão “em listas faiscantes, / sobre as sedas orientais / de cores luxuriantes”; as rotas aquáticas em espiral serão agora “nuvens de incenso” e “as ondas vermelhas do cetim”; os corpos oblongos e estilizados do pintor Gustav serão em Judith longos, “esguios, estáticos, /...corpos esculpidos em marfim”; os klimtianos rostos de mulher, misto de frigidez e efervescência, serão pares dos judithianos “perfis esfíngicos, / e cálidos” que estremecem “na ânsia duma beleza pressentida, / dolorosamente pálidos!”; os compridos braços de dedos longilíneos das mulheres narcísicas do artista de Baumgarten presentificar-se-ão “nos braços longos e finos” das criações da poeta; o halo irreal ou surreal que recobre o conjunto plástico de tonalidade onírica será equipolente da atmosfera de sonho que conquista o centro do poema através daqueles “corpos subtilizados, / femininos, / entre mil cintilações / irreais”; e, por fim, que existirá uma similar dimensão trágica e de revolta decadentista-modernista na explosão amorosa, citando eu o exuberante exemplo “E morderam-se as bocas abrasadas, / em contorções de fúria, ensanguentadas!”, bem atestador do atrás mencionado clímax orgásmico que atinge boa parte dos poemas judithianos explicitamente lésbicos.

Segue Judith o preceito de Georges Bataille segundo o qual a arte autêntica é forçosamente prometeica. A transgressão e o voo livre pelos interditos continuam a fazer de Judith Teixeira um caso raro de afirmação. Estar, no entanto, com os tempos modernos não deixava que a sua inscrição literária se fizesse em época de fundamentalismo misógino e de gradual fechamento político, parecendo mesmo, face ao diferidíssimo reconhecimento, como diria Foucault, que a “transgressão transpõe e constantemente volta a transpor uma linha que, atrás de si, logo se fecha numa vaga de falta de memória, recuando assim de novo até ao horizonte do intransponível” .

Lembrei então os laços da expressão da poetisa portuguesa com a certamente para si desconhecida Delmira Agustini (1886-1914), a cultuada pitonisa uruguaia do modernismo hispânico, afinidades essas que eram também biográficas. Aliás, essa convergência de articulação poética já foi notada por um René Garay, que defende que a subversão das imagens consagradas é comum em ambas: o cisne de Delmira nada deve à simbologia do modernismo hispânico glosada pelo seguidores de Ruben Darío, antes se subtilizando em desejo irreprimível no poema “El cisne” do livro Los cálices vacíos (1913), o que, afinal, também acontece com Judith Teixeira nos poemas “Ao Espelho” (“e eu vou pensando, / no cisne branco e mudo / que no espelhante lago adormeceu”) de Decadência ou na composição poética “Ilusão” de Nua. Poemas de Bizâncio (1926), que é, sem dúvida, uma fulgurante exemplificação da capacidade estranhizante das imagens judithianas, com a sua pregnância onírica animada por uma belíssima criatura “esculpida em neve” que tem sobre a nudez jovem do corpo “dois cisnes erectos”.

Estas particularidades analógicas e transgressivas, algumas delas já por mim assim referidas aqui em Aveiro, e outras práticas leiturais, que a argúcia de leitores sobre os existentes literários judithianos não deixará de aportar em tempo próximo, fazem da malha autoral em análise um objecto epistemologicamente vivente e movente, de acordo com a actualização da sociosfera e os ritos dos tempos e dos lugares, cedo quedando os receios pessoanos e as admonições regianas, ambas contribuintes, sem consciência dos autores, para a remarcação institucional. Se a literatura é, em simultâneo, inscrição e transgressão, impossível é reservar para Judith Teixeira silêncios e meros lugares paratextuais.

Reclamando-se desde o dealbar criativo como um ser insulado, “tão sem ninguém”, “mentindo ao mundo inteiro”, como se lê em passos epigráficos de Decadência, o sujeito lírico judithiano prevalecente é o de alguém que, arrastando consigo um “negro crime ancestral” (sonetilho “Predestinada”), muito cedo abandona a metaforização e a instabilidade identitária para ceder ao rigor das palavras que afirmam uma iniludível sexualidade que “incendeia” um sangue não mais arrefecido. E assim desfilam logo na primeira criação judithiana alvos peitos entumecidos, “seios de bicos acerados” e seios nus, “de bicos enristados”, bronzeados perfis, mulheres de dentes felinos com olhos indiciadores de perversos fins, cintas esguias e altas de ondulações provocantes, beijos rubros de sangue, “bocas encandescidas”, nudezes estilizadas, corpos estonteantes e mais curvas provocantes, bocas perversas de bacantes, bem como estruturas poemáticas orgásticas do género de “sentindo ao agudos dentes / virem morder-me inclementes / numa infernal perversão!” (“A cigana”), do já mencionado poema “Perfis decadentes”, de “E a minha boca ardente / numa ansiedade louca / procura ir beijar / o seio branco e erguido” (“Ao espelho”), quer ainda do tipo do desafiante e polémico título “A minha amante”, cujo incipit é mais do que cristalino: “Dizem que eu tenho amores contigo! / Deixa-os dizer!...”. Aliás, este último poema é mesmo uma arte poética que cartografa e inscreve em roteiro o drama íntimo da poetisa e os influxos da pressão social contra um ser que queria um nome que fosse seu:

Não entendem dos meus amores contigo –
não entendem deste luar de beijos…
- Há quem lhe chama a tara perversa,
dum ser destrambelhado e sensual!
Chamam-te génio do mal –
o meu castigo…
E eu em sombras alheio-me dispersa…
E ninguém sabe que é de ti que eu vivo…
Que és tu que doiras ainda,
o meu castelo em ruína…
Que fazes da hora má, a hora linda
dos meus sonhos voluptuosos –
Não faltes aos meus apelos dolorosos…
- Adormenta esta dor que me domina!

E se na segunda colecção de poemas, Castelo de Sombras, a poetisa opta estrategicamente por um esmaecimento da linha tribadista, divisando-se, ainda assim, uma linha febricitante de desejo, na terceira e última colectânea poética, sob o título Nua. Poemas de Bizâncio, tudo volta à ambiência desafiante. Como o defende Leo H. Hoek, o título é não só o primeiro elemento textual como é, em simultâneo, uma marca autoritária que programa a leitura (Hoek, 1980:2). Unindo a isto o facto, de acordo com Kate Hamburguer, de haver no texto lírico uma clara indiferenciação entre o autor empírico e o autor textual, fácil é concluirmos da ousadia e da abertura da titulação judithiana. Aliás, ainda no âmbito paratextual, o livro comporta uma epígrafe da poetisa lésbica Renée Vivien. Depois, bem, depois, temos um conjunto ardente de poemas, tais como “Ilusão”, “A bailarina vermelha” e “A infanta das mãos pálidas”, onde se entrelaçam corpos femininos, endoidecidos e ébrios de luxúria, essa força que Judith tão bem conhecia a partir do Manifesto Futurista da Luxúria (1913) de Valentine de Saint-Point e que usou abundantemente na sua obra, como vemos no fulgurante final do poema “Rosas pálidas”:

A luxúria, ó pálidas irmãs,

é a maior força da vida!

Sensualizai pois! a vossa carne

arrefecida…

Ó brancas, imaculadas!

Ó virgens inúteis

e decepadas…

Sem rasto social ou pequena notícia marginal, Judith Teixeira morre, estranhamente ou não, em 1959, ano do falecimento de António Botto, atropelado no Brasil, e de Rafael Lasso de la Vega, ultraísta espanhol que vem a sucumbir na porta giratória do Ateneu de Sevilha, vitimado por fulminante ataque cardíaco. Lembro, de passagem, que os três intelectuais estiveram juntos, por Agosto de 1923, em casa da poetisa . Sem liberdade, nesse ano crepuscular de 1959, partia para o exílio Jorge de Sena, ele que quatro anos antes vira o seu livro As Evidências (Poema em 21 sonetos) acusado de subversivo e pornográfico. E esta é mais uma importante coincidência, como nodal será sempre assinalar a coragem artística e cívica de Judith Teixeira, neste ano de 2009, quando passam 50 anos sobre a sua morte e quando se decide ainda a sorte de Bethany Smith, uma jovem militar lésbica de 21 anos do exército norte-americano em Fort Campbell, no Kentucky, que, receando ser assassinada, pediu o estatuto de refugiada no Canadá, onde vive actualmente . Este episódio sobrepassa mais de duzentos espantosos anos sobre as relações de Maria Antonieta com a duquesa de Poulignac e a princesa de Lamballe, acabando esta, no calor revolucionário, por ser mutilada e despedaçada, acusada de ser a “puta da rainha”.

Muito longe da vulgaridade, Judith Teixeira assume uma homossexualidade vincada, na vida e na obra, em época de silêncios e interditos, não temendo sequer desafiar a admonição punitiva de S. Paulo a respeito das mulheres que “ardem de desejo umas pelas outras”. Com um trajecto de vida atribulado, ao arrepio das canónicos normativos civis, a poeta, com ser divorciada, adúltera (segundo acusação do marido, Jaime Levy Azancot) e lésbica, reúne a principal tríade dos comportamentos transgressivos. Como o afirma Paulo Guinote, na época, e “por ordem crescente de gravidade, o divórcio, o adultério e a homossexualidade eram fenómenos a evitar e a combater” (Paulo et alii, 2001:78).

Não existirão muitas dúvidas já sobre este “grande” caso literário que o tempo não conseguiu esconder. Enterrada viva, a autora, com qualidade mais do que apreciável, só pode ocupar um espaço que é seu. Na obra de Judith Teixeira, principalmente na lírica, a linha lésbica é fortíssima: há encontros e desencontros; corpo e espírito; culpas e transgressões; paradigmas feminis, onde o corpo da amante lésbica vai do efebo androgenizado à mulher escultural; nostalgias e plenitudes. Uma característica outra importa agora reter: a de um erotismo agressivo e arrebatador como não acontece nunca, por exemplo, em Isabel de Sá, que com Judith reparte boa parte das marcas literárias. E isso faz também da autora de Castelo de sombras, sem branqueamento, um expoente da literatura lésbica e queer portuguesa, tanto mais que desde há quase duas décadas que Cecília Barreira defende que Judith Teixeira aposta mesmo “numa homossexualidade latente ou num hermafroditismo que contraria em muito o que era usual na época” (Barreira, 1992: 229). Não mais pois um lugar de morte para um humano assim nas nossas mãos.

É tempo de acabar Judith Teixeira aí está, viva e disponível, com uma qualidade literária não despicienda e aberta a múltiplas lacerações hermenêuticas. Reconheço mesmo que a poeta, qual judeu errante, não encontrou ainda lugar onde pacificar o corpo, havendo mesmo no seu trajecto um cúmplice eco do canto da também poeta lésbica Renée Vivien que por ambas ficará ressoando nesta sala: “Fugindo da multidão ignara, / Nunca um tecto abrigará nossos suspiros incompreendidos” (Eck, 1970: 283). Mas até quando?



Anexo


A] inícios poemáticos e não só


Os inícios poemáticos e de obra subsequentes aparecem por ordem alfabética e de acordo com a primeira palavra do texto, reproduzindo-se o primeiro verso de cada poema publicado ou as primeiras palavras da obra, com excepção do hipotético sinal de pontuação que não indique final de frase, inscrevendo-se ainda entre parênteses rectos, pela ordem, o título da obra sem o ano de publicação, de acordo com as siglas (ABC: ABC; C: Contemporânea®; CS: Castelo de Sombras; D: Decadência; DL: Diário de Lisboa; DM: De Mim. Conferência. Em que se explicam as minhas razões sobre a Vida, sobre a Estética, sobre a Moral; JT: Jornal da Tarde; NPB: Nua. Poemas de Bizâncio; S: Satânia. Novelas; SLDL: Suplemento Literário do Diário de Lisboa) o título do poema entre aspas, se existente; havendo, o ano de publicação em periódico; o número de página nas edições conhecidas; o número de versos constituintes do poema; e outras informações julgadas não despiciendas. É esta a tabela alfabética dos incipit judithianos:



A minha inteligência absolveu já [NPB, “Nostalgias de raça – Contrição”, pp. 107-108, 14 vv.]
A primavera chegara mais cedo numa abundância de seiva. [S, “Satânia”, inc., novela]
A noite cai sobre a terra [CS, “Inverno”, pp. 21-22, 20 vv.]


A noite vai adiantada [D, “Insónias”, pp. 37-38, 39 vv.]


A Outra, a tarada [D, “A Outra”, pp. 41-42, 31 vv.]


Abram-se as portas do inferno [NPB, “Nostalgias de raça – Rajada”, pp. 103-104, 17 vv.]


Abre sempre de mansinho [CS, “Quatro cantigas de tristeza”, pp. 33-34 , 16 vv.]


Adoro o Inverno. [NPB, “Sinfonia do amor – Sinfonia hibernal”, pp. 47-48, 30 vv.]


Agora que se procura resolver o problema do analfabetismo [SLDL, “O desemprego do espírito”, p. 11, crónica]


Ameigam teu corpo airoso [D, “A mulher do vestido encarnado”, pp. 73-74, 36 vv.]


Anda o sol amarelo, adoentado [CS, “Sonetos da minha dor – Outono”, pp. 45-46, 14 vv.]


Anda-se a rir, a rir dentro de mim [CS, “Sonetos da minha dor – O palhaço”, pp. 55-56, 14 vv.]


Ando a queimar-me… a dispersar-me – [D, p. 5, 6 vv.]


Ando, há já tantas noites sem dormir [CS, “Estranha dor”, pp. 19-20, 27 vv.]


Aos braços delgados, e brancos, e nus da minha [NPB, p. 9, 5 vv.]


As árvores seculares [D, “O anão da máscara verde”, pp. 23-25, 56 vv.]


As horas vão adormecendo [D, “Ao espelho”, pp. 49-50, 38 vv.]


As tuas mãos alvíssimas de neve [ABC, “Sol do Oriente – Sinfonia Branca”, 22 vv.]


As tuas mãos alvíssimas de neve [NPB, “Sinfonia do amor – A infanta das mãos pálidas”, pp. 49-50, 24 vv.]


Asa negra que esvoaça… [D, “Fim”, p. 39, 14 vv.]


Asas agoirentas, pretas [CS, “Maus presságios”, pp. 17-18, 14 vv.]


Assim… de mansinho… [NPB, “Volúpia – Scheherazade”, pp. 67-68, 34 vv.]


Através dos vitrais [D, “Perfis decadentes”, pp. 31-33, 41 vv.]


Como uma bola de sabão, tão leve [CS, “Sonetos da minha dor – Átomo”, pp. 41-42, 14 vv.]


Custódia d’ oiro em luz vai refulgindo [CS, “Tríptico – Meio dia”, pp. 27-28, 14 vv.]


Deixa-me tombar… Venho tão cansada!... [NPB, “Nostalgias de raça – Aos pés da cruz”, pp. 99-100, 14 vv.]


Densa névoa… Chuva fria… [DL, “A chuva”, p. 3, 35 vv., trad.]


Descobri a cor rubra, dentro dos sentidos… [D, “Nada”, p. 69, 14 vv.]


Desperto entre destroços e ruína [CS, “Sonetos da minha dor – Cinzas”, pp. 53-54, 14 vv.]


Devagar… [NPB, “Volúpia – Mais beijos”, pp. 69-70, 16 vv.]


Doirado, fulvo, desmaiado [D, “Os meus cabelos”, pp. 19-20, 29 vv.]


Dizem que eu tenho amores contigo! [D, “A minha amante”, pp. 61-62, 32 vv.]


Dizes agora que eu quis acabar [NPB, “Sinfonia do amor – Sem culpa…”, pp. 59-60, 14 vv.]


E os séculos passaram lentamente [CS, “Misticismo – 3”, pp. 65 , 6 vv.]


Ela passa [NPB, “Amores de Sheherazade – A bailarina vermelha”, pp. 29-31, 49 vv.]


Embriaguei-me num doido desejo [CS, “Ninguém…”, pp. 9-10 , 12 vv.]


Era já tarde e tu continuavas [NPB, “Volúpia – Volúpia”, pp. 65-66, 14 vv.]


Era uma esvelta cigana [D, “A cigana”, pp. 27-28, 40 vv.]


Escrevi-te ontem [CS, “Duma carta”, pp. 13-14, 27 vv.]


Estendida na sua chaise-longue [JT, “Lali…”, conto]


Eu ando tão cansada de sofrer [D, p. 5, 5 vv.]


Este sol estridente faz-me mal! [D, “O teu perfil”, pp. 55-57, 47 vv.]


Flores de cactus, resplandecentes [D, “Flores de cactus”, pp. 21-22, 29 vv.]


Há-de chegar o dia [NPB, “O meu gomil de amarguras – Quando, não sei…”, p. , 25 vv.]


Hás-de beber as lágrimas sombrias [C, “Vaticínio” , pp. 77-78, 14 vv.]


Já não me importo com o teu amor. [NPB, “Nostalgias de raça – Confissão”, pp. 105-106, 14 vv.]


Lá vai mais um dia… outro vai passando… [CS, “Sonetos da minha dor – Tédio”, pp. 51-52, 14 vv.]


Lá vem a noite, as serras contornando [CS, “Sonetos da minha dor – Crepúsculo”, pp. 47-48, 14 vv.]


Maldito sejas tu pela amargura [NPB, “Nostalgias de raça – Maldição”, pp. 101-102, 14 vv.]


Meu amor, como eu sofro este tormento [NPB, “O meu gomil de amarguras – Ausência”, pp. 75-76, 14 vv.]


Minha alma ergueu-se para além de ti… [D, “Última frase”, p. 77, 3 vv.]


Minha ânsia ardente traz-me alucinada… [CS, “Sonetos da minha dor – Sonhando”, pp. 43-44, 14 vv.]


Minha Mãe! Minha Mãe! Quero dormir [D, “Ansiedade”, p. 71, 14 vv.]


Minhas Senhoras e meus Senhores [DM, inc. conf.]


Na atmosfera branda e prateada [CS, “Tríptico – Alvorecer”, pp. 25-26, 14 vv.]


Na linha rubra do horizonte, a serra [CS, “Sonetos da minha dor – Quando o sol morre”, pp. 57-58, 14 vv.]


Não rias assim!... [NPB, “Sinfonia do amor – Gomil de graças”, pp. 53-54, 21 vv.]


Não sei há quanto tempo escureceu… [CS, “Sonetos da minha dor – Nostalgia”, pp. 49-50, 14 vv.]


No meu peito alvo, de neve [NPB, “Sinfonia do amor – Outonais”, pp. 51-52, 24 pp.]


No seu tic-tac, o relógio antigo [D, “O relógio”, p. 75, 14 vv.]


Nos olhos de seda [D, “O meu chinês”, pp. 17-18, 25 vv.]


Nos vinhedos, aloiram-se, distantes [CS, “Primavera”, pp. 11-12, 23 vv.]


Noutros cenários a minha alma vive [D, “Liberta”, pp. 53-54, 29 vv.]


Ó anémicas! Ó pálidas! [NPB, “Volúpia – Rosas pálidas”, pp. 63-64, 33 vv.]


O céu negro e plangente, está chorando [CS, “Misticismo – Paixão”, pp. 61-62, 14 vv.]


O meu vestido [D, “O meu vestido”, pp. 47-48, 30 vv.]


O sol em calmaria sufocante [CS, “Sonetos da minha dor – A sesta”, pp. 39-40, 14 vv.]


O Sol morre lá fora [NPB, “Amores de Sheherazade – O fumo do meu cigarro”, pp. 25-27, 65 vv.]


O teu corpo branco e esguio [D, “A estátua”, pp. 15-16, 17 vv.]


Olho através da vidraça [DL, “A pobre mais pobresinha” como Lena de Valois, 39 vv.]


Olhos grandes, negros e tristes [JT, “Almas simples (Fé)” como Lena de Valois, conto]


Onde vou eu, onde vou? [D, “Onde vou?”, p. 11, 14 vv.]


Os nevoeiros tombam já rasgados [CS, “Misticismo – 2”, pp. 63-64, 14 vv.]


Pálida, emocionada [D, “Madrugadas”, p. 63, 14 vv.]


Pálida, olheiras pretas [DL, “Sonetilho” como Lena de Valois, 14 vv.]


Pálido, extático [NPB, “Amores de Sheherazade – As tuas mãos”, pp. 37-38, 31 vv.]


Para engrandecer a Nação [SLDL, “A política da família”, p. 13, crónica]


Passei o dia triste meu amor… [D, “Ressurgimento”, p. 35, 14 vv.]


Perfumes estonteantes [“A minha colcha encarnada”, p. 59, 14 vv.]


Pétalas de rosas [NPB, “O meu gomil de amarguras – Bailados do luar”, pp. 79-81, 46 vv.]


Podes dizer que me não amas [NPB, “O meu gomil de amarguras – Podes ter os amores que quiseres…”, pp. 89-90, 25 vv.]


Que estranha fantasia! [D, “Rosas vermelhas”, pp. 45-46, 30 vv.]


Que ninguém fale… nem ao meu ouvido [NPB, “Nostalgias de raça – Remorso”, pp. 97-98, 14 vv.]


Que tens dentro de ti [D, “Por quê?”, pp. 29-30, 21 vv.]


Quebro os nervos em torturas [D, “Delírios rubros”, p. 65, 14 vv.]


Quem és tu companheiro dos meus dias? [CS, “Sonetos da minha dor – Quem és?”, pp. 37-38, 14 vv.]


Ri, ri, meu doido Arlequim! [NPB, “O meu gomil de amarguras – Arlequim”, pp. 91-92, 31 vv.]


Risca-se numa luz esbraseada [D, “Venere coricata”, p. 67, 14 vv.]


Saber de ti… [NPB, “Amores de Sheherazade – Um sorriso que passa…”, pp. 39-40, 21 vv.]


Segue-me noite e dia o teu desejo!... [NPB, “O meu gomil de amarguras – Saudade”, p. 73, 8 vv.]


Sim, sim, as horas más [NPB, “Amores de Sheherazade – A vida”, pp. 15-19, 96 vv.]


Sim, vou partir [NPB, “O meu gomil de amarguras – Adeus”, pp. 83-84, 25 vv.]


Sinto-me triste, presa num enleio [DL, “Enleio” como Lena de Valois, 14 vv.]


Só ontem surpreendi [NPB, “Amores de Sheherazade – A cor dons sons”, pp. 33-35, 59 vv.]


Sou a amargura em recorte [D, “Predestinada”, p. 9, 14 vv.]


Tive esta noite um sonho torturado [DL, “Sonho” como Lena de Valois; CS, “Sonho” como Judith Teixeira, pp. 15-16, 16 vv.]


Tinham começado os doentes dias de Outono, rosados, nevróticos, incoerentes.” [S, “Insaciada”, inc., novela]


Tombei do divino altar [D, “Ruínas”, p. 43, 14 vv.]


Trago fechadas [NPB, “Sinfonia do amor – Domínio”, pp. 43-46, 71 vv.]


Tu estás doente meu amor, porquê? [NPB, “Sinfonia do amor – Minha vida!”, pp. 55-56, 14 vv.]


Tudo em ti era simples e fácil [NPB, “O meu gomil de amarguras – Horas nostálgicas”, pp. 85-87, 45 vv.]


Um dia disse a chorar [DL, “Quero-te bem” como Lena de Valois, 24 vv.]


Vai o sol desmaiando, entristecido [CS, “Tríptico – Poente”, pp. 29-30, 14 vv.]


Vão para ti, amor de algum dia [NPB, “O meu gomil de amarguras – O outro”, p. 93, 11 vv.]


Vem! Vem de mansinho… [D, “Conta-me contos”, pp. 13-14, 36 vv.]


Vence-me sempre a mesma dor latente. [NPB, “Sinfonia do amor – Incoerência”, pp. 57-58, 14 vv.]


Vens todas as madrugadas [NPB, “Amores de Sheherazade – Ilusão”, pp. 21-23, 53 vv.]


Vivo de inquietações… [D., “O meu destino”, pp. 51-52, 30 vv.]






B] roteiro criativo diacrónico






21 Outubro 1918 (pub.): “Almas simples (Fé)”


10 Janeiro 1919(pub.): “Lali…”


Maio 1919: “Madrugadas”


Mês dos cravos sol-posto 1920: “Ressurgimento”


Inverno 1921: “Insónias”


Sexta-feira de Paixão 1921: “Paixão”


Agosto meio-dia 1921: “Flores de cactus”


Setembro tarde 1921: “Fim”


Outono poente 1921: “Delírios rubros”


Outono 1921: “Eu ando tão cansada de sofrer” [inc.]


Outono 1921: “Maus presságios”


Outono 1921: “O teu perfil”


1921: “Outono”


17 Outubro 1921: “A pobre mais pobresinha” [sob o pseudónimo Lena de Valois]


9 Novembro 1921: “Enleio” [sob o pseudónimo Lena de Valois]


9 Novembro 1921: “Sonetilho” [sob o pseudónimo Lena de Valois]


24 Novembro 1921: “Quero-te bem” [sob o pseudónimo Lena de Valois]


24 Novembro 1921: “Sonho” [sob o pseudónimo Lena de Valois]


Janeiro 1922: “Duma carta”


Inverno 1922: “Átomo”


Inverno meia-noite 1922: “O anão da máscara verde”


Inverno noite 1922: “O meu chinês”


Inverno 1922: “Onde vou?”


Inverno 1922: “Sonho”


Fevereiro 1922: “A estátua”


Fevereiro 1922: “Quem és?”


Abril crepúsculo 1922: “Liberta”


1922: “Estranha dor”


Maio tarde 1922: “A cigana”


Maio 1922: “Alvorecer”


Maio entardecer 1922: “Os meus cabelos”


Maio 1922: “Primavera”


Junho poente 1922: “A minha amante”


Junho noite 1922: “O meu vestido”


Junho madrugada 1922: “Rosas vermelhas”


Julho sol-posto 1922: “O meu destino”


Julho 1922: “Por quê?”


Agosto 1922: “A outra”


Agosto 1922: “A sesta”


Agosto noite 1922: “Ao espelho”


Agosto 1922: “Meio dia”


Agosto noite 1922: “Nada”


Agosto quando o sol morre 1922: “Ruínas”


1922: “Poente”


1922: “Quatro cantigas de tristeza”


Setembro noite 1922: “Ansiedade”


Outono 1922: “Conta-me contos”


Outono 1922: “O relógio”


Outono 1922: “Tédio”


Outubro 1922: “A mulher do vestido encarnado”


Outubro 1922: “Crepúsculo”


Outubro 1922: “Quando o sol morre”


Outubro 1922: “Última frase”


Novembro 1922: “Perfis decadentes”


Novembro tarde 1922: “Predestinada”


Dezembro noite 1922: “A minha colcha encarnada”


Dezembro noite 1922: “Ando a queimar-me… a dispersar-me” [inc.]


Dezembro 1922: “Inverno”


Janeiro 1923: “Cinzas”


Inverno amanhecer 1923: “Nostalgia”


Março 1923: “O palhaço”


Hora sombria 1923: “Ninguém…”


Abril 1923: “Sonhando”


Fevereiro anoitecer 1924: “Podes ter os amores que quiseres…”


Agosto 1924: “O outro”


21 Agosto 1924: “Sol do Oriente – Sinfonia branca”


Janeiro: “Contrição”


Janeiro entardecer 1925: “Outonais”


Manhã 1925: “A cor dos sons”


Manhã 1925: “A infanta das mãos pálidas”


Noite 1925: “A bailarina vermelha”


Inverno 1925: “Sem culpa…”


Inverno entardecer 1925: “Sinfonia hibernal”


Inverno 1925: “Um sorriso que passa”


Primavera manhã 1925: “A vida”


Abril madrugada 1925: “Volúpia”


Maio 1925: “Mais beijos”


Estio noite 1925: “Domínio”


Agosto noite 1925: “Bailados do luar”


Agosto 1925: “Gomil de graças”


Agosto madrugada 1925: “Ilusão”


Agosto meio-dia 1925: “Rosas pálidas”


Outono 1925: “Incoerência”


Outono manhã 1925: “Minha vida!”


Outono 1925: “O fumo do meu cigarro”


Outono anoitecer 1925: “Scheherazade”


Fim do Outono anoitecer: “Aos pés da cruz”


Dezembro 1925: “Ausência”


Dezembro 1925: “Confissão”


Dezembro 1925: “Quando, não sei…”


Dezembro meia-noite 1925: “Remorso”


Janeiro 1926: “Adeus”


Janeiro madrugada 1926: “As tuas mãos”


Janeiro 1926: “Rajada”


Janeiro 1926: “Saudade”


Carnaval madrugada 1926: “Arlequim”


Março 1926: “Maldição”


Outono 1926: “Vaticínio”


Outono entardecer 1926: “Horas nostálgicas”


1926: “Aos braços delgados, e brancos, e nus da minha” [inc. dedicatória]


20 Janeiro 1938: “O desemprego do espírito” [crónica]


7 Abril 1938: “A política da família” [crónica]






C] geografia judithiana






25 Janeiro 1880 - Viseu [Viela de São Francisco]


1 Fevereiro 1880 – Viseu [Sé Catedral de Viseu]


22 Abril 1908 – Lisboa [Rua do Arco do Carvalhão, nº 70]


1908?-1912 – Lisboa [Rua Rodrigo da Fonseca]


Abril ? 1914 - Bussaco


Maio 1919 – Serra [“Madrugadas”]


Maio 1922 – Sevilha [“A cigana”]


Junho 1922 – boudoir lisboeta [“O meu vestido”]


1923 – Decadência. Poemas [rosto: “Imprensa Libânio da Silva. Travessa do Fala-Só, 24 – Lisboa]


1923 – Nua. Poemas de Bizâncio [capa posterior: “Imp. Libânio da Silva. T. do Fala-Só, 24 – Lisboa”]


22 Maio 1926 – Satânia [colófon: “Acabou de se imprimir este livro aos vinte e dois dias do mez de Maio de mil novecentos e vinte seis, nas oficinas do Centro Tipográfico Colonial, Largo Bordalo Pinheiro, 27 – Lisboa”.]


Fevereiro-Março? 1927 – ausente do país


Maio 1959 – Lisboa [Campo de Ourique, Praceta Padre Francisco, nº 3 – 1º andar]






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Resumo: Desafiando o seu tempo e o porvir, os escritos de Judith Teixeira estão cada vez mais actuais, como o comprovam as inúmeras leituras judithianas levadas a cabo na última década, dentro e fora do país. Um escrutínio à obra da poeta permite integrá-la no Modernismo português. È ainda Judith Teixeira, pela vertente homoerótica, um expoente do lesbianismo literário português.

Abstract: Challenging your time and the future, the writings of Judith Teixeira are increasingly present, as evidenced by the numerous readings carried out in the last decade, both within and outside the country. A scrutiny of the work of the poet permits to incorporate it into Portuguese Modernism. It is also Judith Teixeira, by the homoerotic aspect, an exponent of Portuguese literary lesbianism.
 Lesbianismo e interditos em Judith Teixeira

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