Wednesday, May 03, 2006

MEMÓRIA


Na morte de René Garay
Adelto Gonçalves (*)

Com a morte do professor René Pedro Garay (1949-2006), em Nova York, dia 29 de abril, as literaturas portuguesa e brasileira perderam um grande amigo e divulgador. Nascido em Havana, Garay, professor do City College-Graduate School/City University of New York (Cuny), escreveu, entre outros trabalhos, Judith Teixeira: o Modernismo Sáfico Português (Lisboa, Universitária Editora, 2002), em que estudou a obra de uma das maiores poetisas portuguesas do século XX, retirando-a do limbo a que havia sido relegada não só pelo preconceito de seus contemporâneos como pela indiferença de seus pósteros.
Sobre o assunto, Garay já havia escrito o ensaio "Sexus Sequor: Judite Teixeira e o discurso modernista português", publicado em Faces de Eva - Revista de Estudos sobre a Mulher, nº 5, 2001, da Universidade Nova de Lisboa, que trouxe na capa o rosto de Judith Teixeira (1880-1959), e outro que saiu em Artes & Artes, jornal literário da Universitária Editora, de Lisboa, além de ter pronunciado palestras em universidades portuguesas e norte-americanas.
O livro de Garay encontra-se nas bibliotecas da Universidade de Oxford, da Universidade de Chicago e da Universidade do Texas, em Austin, e faz parte de uma lista de leituras para um curso sobre o fascismo na literatura portuguesa na Universidade de Cambridge.
Na Cuny, dirigia desde 1992 o Programa de Literaturas Hispano-americana e Luso-Brasileira, que oferece aulas sobre o Modernismo português e brasileiro, Camões, a lírica medieval galaico-portuguesa, o Século de Ouro espanhol e o teatro ibérico. Publicou ainda Gil Vicente and the Development of the Comedia (University of North Carolina Press, 1989) e The Play of Rubena (Nova York, National Hispanic Foundation for the Humanities, 1993), em co-autoria com José Suárez, edição em inglês da Comédia de Rubena, de Gil Vicente.
Escreveu “First Encounters: Epic, Gender and the Portuguese Overseas Venture”, sétimo capítulo do livro Global Impact of the Portuguese Language (New Brunswick and London, Transaction Publishers, 2001) e, mais recentemente, cuidou da publicação de uma edição comemorativa do Monólogo do Vaqueiro, de Gil Vicente.
Publicou numerosos artigos e ensaios acadêmicos sobre literatura luso-brasileira e hispano-americana em Portugal, México, Brasil e Estados Unidos. Entre os autores brasileiros que estudou, estão Machado de Assis, Murilo Rubião, Moacyr Scliar, Graciliano Ramos, Dalton Trevisan e João Ubaldo Ribeiro.
No ano passado, passou alguns meses em Portugal, hospedado em Sesimbra, de onde, diariamente, viajava para Lisboa para fazer pesquisas na Biblioteca Nacional. Foi lá que começou a sentir os primeiros sintomas da doença que o levou. Retornou a Nova York já sabendo que não lhe restava muito tempo de vida.
Uma das maiores satisfações que teve, nos últimos tempos, como me contou por mensagem eletrônica, foi receber o exemplar que lhe enviei da bem cuidada Revista do Centro de Estudos Portugueses, da Universidade Federal de Minas Gerais, nº 34, v. 25, de janeiro-dezembro de 2005, que traz na abertura o ensaio que escreveu em parceria com Raúl Romero, “Epifanía y poema en prosa: el Livro do Desasssossego de Fernando Pessoa/Bernardo Soares”. Esse trabalho havia sido desenvolvido especialmente para a revista Forma Breve, da Universidade de Aveiro, nº 2, 2004.
Garay escreveu ainda ensaios sobre Luís de Camões, Camilo Pessanha, Almada Negreiros, Almeida Faria e Mário Máximo. Para desenvolver muitos de seus trabalhos, recebeu bolsas da Fundação Fulbright, dos Estados Unidos, e da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação Luso-Americana, de Portugal. Era membro do conselho editorial da revista Signótica, da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás, e da revista The Literature of Travel and Exploration (Londres, Fitzroy Dearborn Publishers).
Nos últimos tempos, orientou a professora brasileira Regina Chaudhry em monografia sobre o mito de Inês de Castro e sua influência na produção poética brasileira do século XX, no âmbito de estudos de doutoramento na Cuny, ainda inédita. Garay concluiu mestrado em Literatura Espanhola na University of South Florida, em 1974, e em Literatura Portuguesa na Vanderbilt University, em 1979, onde obteve o seu doutorado em Literaturas Espanhola e Portuguesa em 1984.
Ensinou na Vanderbilt University, University of South Florida, The University of the South e no Presbyterian College. Foi também professor convidado da Universidade Nova de Lisboa, Universidade Aberta e Universidade Autônoma de Lisboa, da University of Puerto Rico, da Yale University, do New College, da Flórida, Rutgers University, de Newark, e da Universidade de Salamanca, Espanha.

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(*) Adelto Gonçalves, doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo, é autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage - o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: adelto@unisanta.br

2 comments:

martim de gouveia e sousa said...

Obrigado, Professor Adelto. Até sempre, René Garay!

porfirio said...

...
a minha homenagem

até sempre
.