Judith Teixeira e Nita Clímaco – uma aproximação em pentateuco
Ferindo a codificação
escatológica, parece haver uma certa transcendência nalguns destinos como se na
estrutura triádica do profetismo houvesse oponentes mediadores e comunidades
organizadas para fins apocalípticos. Verta-se na genealogia da cultura mais
filologia, mais textualidade, e conclua-se da existência de filamentos nodais,
lugares transmissivos e fluxos de influência. Um elemento criativo no campo do
cânone literário pode hibernar, imergir ou emergir, estabelecendo, de acordo
com a ritualidade da ação, um laço mais ou menos apertado com outros elementos
de semelhante linhagem. Aliás, a literatura é isto – genealogia e linhagem.
E por aí vou escrevendo o
pentagrama: Judith Teixeira (1880-1959) publicou cinco livros (Decadência e Castelo de sombras, em 1923; Nua.
Poemas de Bizâncio e a conferência De
mim, ambos em 1926; e Satânia, em
1927), todos na mesma década; Nita Clímaco, por seu lado, publicou, durante a
década de sessenta do mesmo século, os romances Falsos preconceitos (1964), Pigalle
(1965), O adolescente (1966), A salto (1967) e A francesa[1]
(1968). A aproximação é, visivelmente, inevitável.
Em entrevista que, infelizmente,
não deveio célebre, Nita Clímaco afirma ter escrito cinco livros, todos
censurados, e que isso a levou à desistência, vencida pelas proibições e
enxovalhos. Ensina o tempo feiticeiro que não há Ramiros Valadões que possam
calar a raiz ao pensamento. Os golpes apocalípticos serão, para uns,
genesíacos. Para Clímaco e para Judith, como se tem visto, que se vão “da lei
da morte libertando”.
Viseu, 10 de junho de
2016
Martim de Gouveia e
Sousa
[1]
De acordo com a informação da página de rosto, o volume contém dois minirromances:
A francesa e Encontros. E até este caso apresenta o correlato com Satânia, que apresenta, como se sabe,
duas novelas.
5 comments:
Caro Martim,
Pode, por favor, dizer-me onde posso encontrar a entrevista mencionada? Tenho informação de que os primeiros três romances que menciona foram, de facto, censurados, mas nada encontro a respeito de "A salto" nem de "A francesa" (assim como não os encontrei nos registos das obras proibidas na Torre do Tombo, ainda que admita que possam ter-me escapado). Também Cândido de Azevedo, na obra "Mutiladas e proibidas: para a história da censura literária em Portugal", se refere apenas às proibições das obras "Pigalle", "Falsos preconceitos" e "O adolescente".
Agradeço a atenção.
Cumprimentos,
Ana Bárbara Pedrosa
anabarbarapedrosa@gmail.com
Aliás, Isabelle Simões Marque, num artigo intitulado “Quando a literatura retrata a emigração portuguesa em França: o caso de Nita Clímaco”, que está na obra A vez e a voz da mulher – Relações e migrações, organizada por Rosa Maria Neves Simas, diz que “A autora começou a sua carreira como jornalista e publicou uma série de romances, todos em edição de autor, que foram censurados pelo regime ditatorial da época, exceto A salto publicado em 1967”. Em nota de rodapé, diz que as obras censuradas foram as três a que me referi previamente, acrescentando que a “A autora também publicou, em edição de autor, A salto (1967) e A francesa e encontros (1968)”, o que me leva a crer que, por esquecimento, não terá referido A francesa e encontros como outra obra que não foi censurada.
Boa tarde!
Tal como a Ana, também me interessava saber qual a fonte da entrevista de que fala.
Obrigada pela atenção, desde já.
Estou, também, bastante interessada nesta informação.
Pode, por favor, entrar em contacto comigo?
luciamvicente@gmail.com
Muito obrigada pelo tempo e atenção.
Lúcia Vicente
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